Dentro
de uma garrafa empoeirada, mal acomodada ao pé do trono de ossos do rei do
Inferno, nuvens de gases acinzentados contorciam-se entre si – moldando a
expressão de um rosto apavorado. Era a alma de Rui Rico, enclausurada.
Com
um estalo de dedo do chefão, um diabinho muito magro aproximou-se do Mestre do
Mal.
Em
dois segundos, o pobre magricela foi e voltou, trazendo o pedido do chefe em
mãos. O Senhor das Trevas apanhou o objeto sem se virar e já começou o
discurso.
-
Vocês desceram ao Inferno por causa disso daqui, não??!! – gritou ele, erguendo
a garrafa a dois palmos de distância dos narizes de Margô e dos demais
amarrados.
Baldo
tentou segurar, mas não se aguentou e deixou explodir uma risada. Margô, Zé e
Rimo, mais contidos, estamparam um sorriso de escárnio.
-
Olha, não foi exatamente atrás desta garrafa que viemos. Mas, um gole não seria
nada mal – falou Margô.
Só
então o capetão-mor notou o que tinha em mãos: uma garrafa de Coca-Cola.
-
Imbecil!!! – esgoelou-se o Senhor do Mal, instantes antes de atirar o objeto
bem no meio dos chifres do assistente esquálido, que foi ao chão na mesma hora.
– Tragam-me a garrafa com a alma do candidato! Agora!
Um
outro capetinha, tão magro quanto o primeiro, apressou-se em cumprir a tarefa. Lúcifer voltou a sorrir ao notar a
expressão esfumaçada de Rui Rico distorcer-se de espanto ao se ver nas mãos do
ser mais malvado entre todos os malvados.
-
Tá com medinho? Tá com pavorzinho do pai? Hahahahaha! – provocou o capeta,
batendo no vidro com a ponta da unha afiada. Em seguida, ele aproximou a
garrafa dos próprios olhos arregalados e continuou o falatório – Você ainda sequer
experimentou o que é medo de verdade!
Zé
deu um bocejo. Aquele blablablá todo lhe dava sono. Para não dormir em pé, ele
rompeu com o mutismo tradicional e provocou:
-
O que você vai fazer, ó supremo Mestre do Mal?
-
Vou fazer você engolir a seco toda esta arrogância, bigodudo asqueroso! –
berrou o demônio supremo, sem paciência.
Em
seguida, Lúcifer gritou uma nova ordem.
- Acendam a fogueira!
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