16. O PLANO EM PRÁTICA

     - O que descobriu? – perguntou Celeste, que veio ao encontro de Beterraba, trazendo uma folha de papel nas mãos.
     - Ela foi contaminada com um tipo de amor absoluto. A qualquer momento, ela pode cair de amores por alguém. Agora a pouco, foi Margô. Daqui a cinco minutos, o alvo pode mudar – explicou a gorducha.
    Celeste tinha a mesma opinião. A tinta verde, neste caso, não surtiria efeito. Ambas, então, conduziram Bromeja até o banheiro e lavaram seu cabelo com um óleo especial, que devolveu a cor natural às madeixas da mulher.
     Sorondo esperava o trio sentado em uma cadeira em frente ao lavabo. Assim que elas abriram a porta, o mordomo levantou-se e disse.
     - Temos de levar esta mulher até o abatedouro da família Sanguinolência.
     Bromeja, que conhecia a fama do lugar, encolheu-se toda e quase caiu. Celeste e Beterraba seguraram-na pelos braços. Ambas, contudo, estavam com cara de interrogação. Por que aquilo?
    - Vocês vão me entender. Vamos até lá e não teremos mais problemas. Eu sei o caminho – respondeu Sorondo, como se houvesse lido pensamentos.
    Os quatro entraram no carro do laboratório e saíram em arrancada. O restante da equipe ficou à porta, sem entender a movimentação. Apenas Margô suspeitava o que se passava, uma vez que era muito ligada a Sorondo e, por isso, capaz de interpretar e prever os movimentos do velho. Antes de deixar a casa, o mordomo olhou para a doutora como quem dissesse: fique tranquila.
     Foi preciso atravessar toda a cidade para chegar ao abatedouro. A atmosfera do lugar era pesada, úmida. Não ventava e o cheio de sangue e expurgos permanecia constantemente no ar. Bromeja, que tinha o estômago fraco, sentiu engulhos. Sorondo dirigiu-lhe um olhar repressor e ela seguiu em frente, apesar de tudo.
    Os funcionários do abatedouro estavam entretidos em decepar, estrangular, esquartejar, desmembrar e estripar. Montes de carnes acumulavam-se nos cantos. Cadáveres dos mais diferentes animais estavam jogados pelo chão. Os olhos de Celeste, Beterraba e Bromeja encheram-se de lágrimas diante de tanto horror.
     - Procuro Sanguinolência – disse alto Sorondo.
    Um dos empregados apontou uma sala escura aos fundos. O quarteto seguiu para lá tomando cuidado para não pisar nos animais mortos. O dono do lugar assinava papéis feitos do couro dos abatidos com tinta vermelha produzida com sangue. Ao pressentir a presença de outras pessoas na sala, ele levantou a cabeça.
     Ninguém pode ver seu rosto, que permaneceu encoberto pela sombra do chapéu. Ainda bem. Pois, ao se deparar com os visitantes inesperados, os músculos de Sanguinolência retorceram-se e produziram a careta mais feia e cheia de ódio do ano.

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