5. MÃOS À OBRA!

     - Por onde vamos começar? – perguntou Baldo.
     Beterraba então apanhou a folha amassada do chão. Todos a cercaram. Ela abriu o papel e não havia mais nada escrito. Em seguida, cheirou, lambeu, apertou, alisou, virou, revirou e, por último, encostou o ouvido na folha, como faz alguém que quer escutar o que se passa do outro lado de uma porta.
     - E então? – quis saber Margô.
     - Violeta, com uma pitada de fermento e barulho de pneu na estrada – disse a gorduchinha – Mas, ainda tem outra coisa, que não consigo decifrar.
     - Ótimo! – respondeu a chefe, estampando um sorriso largo.
     Lá do alto, porém, Sorondo não sorriu. Pelo contrário: fechou a cara e resolveu ir limpar o banheiro.
   Cada um sentou-se à devida mesa. Celeste ficou com a folha. Debaixo de sua cadeira, ela tirou uma pequena maleta. Ao abrir, surgiu um fogareiro, sobre o qual havia uma pequena chaminé transparente. Ela pegou o papel com uma pinça e – fou! – as chamas transformaram-no em cinzas, que caíram pela mesa e foram desprezadas. Restos sólidos não interessavam a doutora. Encantava-a a fumaça, que subiu preta pela chaminé, tornou-se vermelha, laranja, amarela, verde, azul, roxa, marrom e branca e saiu pela boca transmutada em uma bolha, transparente e perfeita, do tamanho de um prato, flutuando a esmo.
     - Muito bem! Baldo, entre em ação! – alertou Margô.
    Baldo então se levantou, deu um grande bocejo para afastar a preguiça e tirou de dentro do bolso da jaqueta um barbante amarelo. Em seguida, ele preparou um laço e, feito um boiadeiro, começou a girar o fio em círculos sobre a cabeça. Arremessou e o gesto preciso laçou a bolha bem no meio. Todos aplaudiram, Baldo deu um sorriso satisfeito e içou a bolha até a encaixar na boca de uma taça larga de vinho, que estava vazia sobre sua mesa.
     Rimo – que até então acompanhava a movimentação impassível – deu uma bicada certeira e estourou a bolha. Imediatamente, o conteúdo da taça foi preenchido por um líquido azul turquesa tão brilhante que parecia emitir luz própria.
      - Eu disse! – exclamou Beterraba, sem se conter.
     Baldo virou-se a ela e fez sinal pedindo calma. Então, molhou o indicador no líquido e fez um círculo em sentido horário no meio da própria testa. Molhou mais uma vez o dedo e, dessa vez, lambeu-o. Depois, fez um círculo em cada um dos pulsos e pingou uma gotinha dentro do umbigo. Após isso, encolheu-se na cadeira, pôs os braços sobre a barriga e fechou os olhos. Parecia dormir – mas não dormia.

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