11. SEU PEDIDO É UMA ORDEM!

     Zé não se conteve e deu uma gargalhada. Dona Bromeja ficou envergonhadíssima e se encolheu entre os ombros.
     - Não seja deselegante, homem! – repreendeu-o Margô.
     Mesmo assim, ele não parou. Continuou rindo alto, mostrando os dentes por baixo do bigode loiro. Era de se esperar que todos estranhassem tal reação de um sujeito calado a maior parte do tempo. Porém, Zcktrosnitchevsky era assim imprevisível às vezes. Celeste, então, pegou-o pelo braço e foi com ele para o jardim.
     - Mil desculpas, dona Bromeja – disse Margô, pegando nas mãos da mulher e olhando no fundo dos seus olhos. Minha equipe vive momentos difíceis, fica intempestiva certas horas, mas são todos ótimos profissionais, até mesmo o trapalhão que acaba de sair da sala.
     - Não tem problema, não tem problema – respondeu a mulher, ainda acanhada. Sabe – continuou ela – estou acostumada. Faz 13 anos que procuro um namorado e não consigo arrumar, nem um cafajeste!
     Desta vez foi a própria Margô quem teve que morder os lábios para não cair no riso. Dona Bromeja dizia as coisas com um olhar de desolação tão grande que parecia caricatura.
     - Quero alguém pra dividir minhas coisas. As coisas boas e as coisas ruins, sabe? A gente tem estes dois lados dentro da gente e é muito dolorido ter que se virar sozinho... Já fui a médico, psicólogo, padre, pastor, pai de santo... E continuo sem ninguém!
     Beterraba, então, sentou-se ao lado de Bromeja. Margô olhou de rabo de olho a gorduchinha, mas ela nem deu bola. Beterraba tinha, às vezes, métodos muito práticos e a doutora previu que um deles estava prestes a ser posto em ação.
     Dito e feito. De repente, a gorducha deu um abraço na mulher. Não um abraço qualquer. Um abraço apaixonado, cheio de vontade, daqueles de urso, sucuri, tamanduá-bandeira, capaz de estraçalhar os ossos.
     Bromeja sentiu as costas estalarem. Seu rosto ficou enterrado entre os peitos de Beterraba. Seus braços não se mexiam, o ar para a respiração perdeu lugar para as banhas da funcionária maluca. Mesmo assim, Beterraba não parava de apertar – e o fazia sorrindo.
     Margô ameaçou impedir, mas Beterraba repreendeu-a com um olhar sinistro. Bromeja, agora, debatia-se. Beliscava onde conseguia alcançar, chutava as canelas da outra, tentou até morder... Sem resultado.
     Só quando parecia perder as forças, Beterraba soltou-a. A mulher estava descabelada, o aro dos óculos completamente torto, a cara amassada e os olhos esbugalhados de susto.
     - S-sua... Balofa!!! Louca, doente, irresponsável! Poderia ter me matado!!!
     Imediatamente, Beterraba respondeu.
     - Qual sua cor preferida?
    A doutora pôs a mão na cabeça e pensou que sua equipe – minutos atrás tão eficiente – tinha pirado completamente.
     - Qual sua cor preferida? – insistiu Beterraba, diante do silêncio da outra.
     - E eu lá que sei!!! – berrou dona Bromeja.
     - Qual sua cor preferida??? – repetiu Beterraba.
     - Não sei!!! – gritou de novo Bromeja.
     - Me diz! Qual sua cor preferida? Qual sua cor preferida? Qual sua cor preferida?
     - Verde!!! Verde!!! Verde!!! Amo verde!
     A gorduchinha olhou para Margô e sorriu satisfeita.
    - Dona Bromeja, pois então, prepare-se! – falou Beterraba. Dentro de 20 minutos, seu cabelo estará desta cor!

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