3. O VISITANTE INESPERADO

     O susto fez com que Margô derrubasse o ventilador no chão, que parou de funcionar. A névoa já tinha ido embora. O medo, contudo, atingiu em cheio a doutora e o mordomo.
     Seria um ET? Se fosse, onde estavam os restos da nave? Seria um cidadão qualquer infeliz o suficiente para ser atingido por um objeto caído do céu? Caso fosse, o que ele estaria fazendo àquela hora da noite no quintal de Margô? Eram estes os pensamentos que se passavam por debaixo dos caracóis da ruiva.
     O sujeito que estava dentro do buraco, no entanto, não queria saber de argumentos. Sua única vontade era se livrar daquele nicho e encher os pulmões de ar puro. Por isso, a criatura fechou a mão, agarrou a grama rasteira que forrava o quintal e puxou com todas as forças.
     A intenção era criar um ponto de apoio que pudesse impulsioná-lo para fora da cratera, objetivo que não teve sucesso nas duas primeiras tentativas.
    Margô e Sorondo entreolharam-se e, sem que fosse preciso dizer nada, ambos venceram o medo e correram para ajudar o homem – ou seja lá o que aquilo fosse. O mordomo apanhou com as duas mãos o antebraço do caído, a doutora agarrou Sorondo pela cintura e os dois fizeram força para trás.
     A criatura do buraco era muito pesada. Entretanto, não o suficiente para que a dupla do laboratório fracassasse na empreitada. Aos poucos, um braço extremamente branco foi surgindo, trazendo consigo o restante do corpo, cheio de ferimentos expostos.
     Tratava-se de um sujeito completamente nu e sem pelo algum. A cabeça careca estava tombada para um dos lados, sombreando os traços do rosto. O tronco era largo e forte, como os de gente acostumada a suportar muito peso. Mesmo caído no chão, era possível deduzir que o homem superava os dois metros de altura.
     Homem, quer dizer, era modo de falar. Pois o ser carregava nas costas um par de asas amarrotadas e sujas de sangue por causa da queda.
     Margô previu quem era, abaixou-se e levantou o rosto do alado.
     - É você, Caliel?
     Sem forças, o outro apenas moveu a cabeça, em sinal afirmativo.
     Caliel era o anjo da guarda da doutora.

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