19. O SOCO SALVADOR

     Sem entender direito a cena que acabara de presenciar, Sanguinolência resolveu as coisas do seu jeito. De repente, ele agarrou o colarinho de Sorondo com a mão esquerda e puxou com força. Os rostos um do outro ficaram quase colados e o mordomo, daquela jeito, mal tocava os pés no chão. Foi a oportunidade que Bromeja finalmente encontrou para se livrar do outro e encolher-se no chão, apavoradíssima.
      - É o fim! – disse ela.
      Era. Sem pestanejar, Sanguinolência cerrou o outro punho. O soco veio logo em seguida, direto na boca de Sorondo. Tal qual uma jaca madura, o mordomo foi ao chão, inconsciente.
      Ao ver o homem caído ao seu lado, Bromeja soltou um grito agudo e arrastou-se para o lado de fora. O reboliço chamou a atenção de Celeste e Beterraba, que, cheias de medo, já aguardavam o desfecho da ousadia de Sorondo um tanto longe.
      - Sorondo! – gritou Celeste, ao ver o amigo derrubado ao chão.
      - Celeste! – berrou Beterraba, procurando alertar a garota dos piercings sobre a proximidade do gigante Sanguinolência, que vinha logo atrás com cara de não muitos amigos.
     Não deu tempo. Quando Celeste tomou consciência do perigo, o matador já estava com as mãos no pescoço da jovem. Ela ainda tentou fugir, contudo ele era tremendamente forte e levantou-a do chão sem o menor esforço.
      Celeste sentiu o ar escapando dos seus pulmões. O rosto começou a ficar vermelho e a língua e os olhos saltaram. Ela chutava e debatia-se, mas Sanguinolência não aliviava um único milímetro.
      Beterraba – que não era das menores – vendo o desespero da amiga, perdeu o medo e partiu para cima do inimigo. Ela agarrou o braço do homem e mordeu com toda potência, como faria ao ver um irresistível cachorro-quente.
      Os dentes afundaram na carne de Sanguinolência, porém, ele não tomou conhecimento da dor. E assim, estrangulando Celeste e com Beterraba pendurada a tiracolo, ele caminhou a passos lentos para fora de sua sala.
     Ao chegar no pátio das matanças, os funcionários surpreenderam-se com a cena. O chefe agarrado a duas mulheres? Aquilo era inédito! Mesmo assim, ninguém ousou parar de trabalhar. Cada um deles sabia, por meio de experiências dolorosas (que é melhor não narrarmos aqui) o temperamento de Sanguinolência quando alguém deixava de cumprir suas obrigações por dois minutos sequer.
       Porém, aquele era um dia diferente.
     - Larguem suas facas, por favor – disse Sanguinolência. Era a primeira vez que qualquer ser vivo do planeta ouvia a voz do sujeito. E era a primeira vez que ele era educado também.

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