22. A NOVA FÓRMULA

    Quando abriu a porta e deu de cara com Sorondo sendo carregado inconsciente por Sanguinolência, Margô não se conteve e partiu para cima do sujeito.
      - O que você fez com ele????!!!! – gritou a doutora no ouvido do gigante, logo após lhe dar uma série de pancadas nos braços (as quais ele nem sentiu).
    Ao notarem o reboliço, Zé, Baldo e Rimo correram para a entrada do laboratório. No mesmo instante, Celeste, Beterraba e o irmão de Sanguinolência surgiram detrás do grandalhão, que praticamente bloqueava a porta com seu tamanho.
     - O que aconteceu??? – perguntou Baldo, deixando de lado sua tranquilidade habitual.
    Celeste e Beterraba entreolharam-se. Mesmo elas que testemunharam tudo não entendiam ao certo o que se passava. Simplesmente as coisas haviam virado do avesso! O irmão, então, era o mais perdido e viera ao laboratório justamente para encontrar alguma resposta.
    - Preciso de outra fórmula, doutora – pediu Sanguinolência, com um tom de voz polido feito o de um lorde inglês.
   - Você precisa de quê? Que tipo de cara de pau é você??? Quero saber agora o que você fez com Sorondo, seu cretino!!! – berrou Margô, soltando todos os bichos que seu posto de chefe responsável a obrigam a guardar.
   - Eu dei um soco na boca dele... E então todas as coisas ruins que senti a vida inteira evaporaram no mesmo instante – respondeu o homem.
    Só então a doutora acordou do torpor e reparou que Sanguinolência não estava mais com o chapéu que lhe cobria os olhos e com o lenço que lhe tapava a boca. Além disso, meu Deus!, o sujeito falava e não tinha mais a aura de violência e ódio que o cercava.
    - Por isso, doutora, eu preciso de outra fórmula. Não para mim ou para meu irmão, e sim para o senhor que carrego nos braços – solicitou, mais uma vez, o gigante.
    Margô não compreendeu como um soco podia mudar a vida do agressor, ainda mais quando desferido em uma boa pessoa como Sorondo. Ela igualmente não sabia a razão, contudo, as palavras de Sanguinolência soavam verdadeiras – não só por expressarem o que de fato havia ocorrido, mas também por virem do coração.
     A doutora, então, com a ponta dos dedos, levantou uma das pálpebras do mordomo. O olho do homem, em vez de branco, estava negro e opaco como uma esfera feita de carvão. Baldo, que esticara o pescoço e vira por trás dos ombros de Margô a situação de Sorondo, tomou a iniciativa.
     - Deixe comigo!
     No mesmo instante, ele sacou uma tesoura do bolso e cortou um bocado do cabelo do desacordado. Em seguida, Baldo apanhou um cacho das uvas preferidas de Rimo, que ao sentir o cheiro da fruta, arregalou os olhos e abriu o bico, pronto a receber a delícia.
   O pássaro, entretanto, quase teve um colapso ao perceber que seu dono havia lhe preparado uma armadilha e enfiara garganta abaixo justamente os fios crespos de Sorondo. Quando o novelo chegou ao estômago, a indigestão bateu e Rimo sentiu o mal-estar fazendo o caminho inverso, de subida.
    Celeste chegou a virar o rosto, pensando que o bicho iria vomitar, porém, ao abrir a boca, Rimo tinha sobre a língua uma bússola. Ao ver o objeto, Margô assentiu com um movimento de cabeça e pediu a todos da equipe.
     - Ajudem Ariobaldo, por favor.
     Depois, ela se dirigiu a Sanguinolência.
     - Me acompanhe. Vamos levar Sorondo para a cama dele.

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