Margô
e os outros não sabiam – e, àquela altura, com fogo a arder sob os pés, também
não se importavam muito. Mas, na superfície, o tempo andava mais rápido e já
estava lá na frente. As eleições presidenciais seriam no dia seguinte.
E
Rui Rico tinha 99% das preferências de voto!
Durante
a campanha, o encantamento sobre o eleitorado só aumentou. Onde quer que o
homem aparecesse, na TV, no rádio, no YouTube, no palanque ou no barzinho da
esquina, a galera delirava!
-
Um, dois, três... quatro, cinco, mil! Queremos Rui Rico presidente do Brasil! –
gritava o coro de simpatizantes do candidato, isto é, todo mundo.
O estranho, porém, é que ninguém se opunha às propostas do sujeito. E olha que
elas eram bem polêmicas.
Queimar
todas as árvores da Amazônia; transformar todas as escolas em centros de tortura;
derrubar os hospitais e postos de saúde e erguer no lugar fábricas de enxofre;
aumentar os impostos em 666%; ferver os rios e cozinhar todos os peixes; furar
todos os canos das redes de água e esgoto só porque é legal; mudar o nome de
Brasília para Inférnia; acabar com o voto e instaurar a Monarquia Absolutista
do Império Tirano do Brasil; determinar por lei irrevogável que “amor” rime
exclusivamente com “dor” em todas as canções e poemas; trancar todos os
passarinhos em gaiolas apertadas; e, acima de tudo, expulsar do país todos que
discordassem de suas ideias. Estas eram algumas das propostas de Rui Rico,
amplamente apoiadas pela população, do pobre ao podre de rico.
-
Ele nem ganhou e já é o melhor presidente do Brasil!
-
Quando assumir vai ser o melhor presidente do mundo!
-
De todos os tempos!
-
Viva!
Era
o que se ouvia nas ruas.
-
Pois é... Já era, não tenho a menor chance. O cara é muito bom – comentou
consigo mesma a ainda presidente Tina Dupep, que, sozinha no quarto, à
meia-luz, já arrumava as malas para ir embora.
***
No
Inferno, Margô, Baldo e Zé sentiam a sola dos pés arder. O único que ainda
estava mais ou menos de boa era Rimo, amarrado na altura da cintura dos amigos,
longe das chamas. Por enquanto.
-
Isso daqui não tá legal! – desabafou Baldo.
-
Concordo – respondeu Zé.
-
Calma, gente – pediu Margô – Eu tenho um plano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário