18. VOLTA E VAI

     Apoiada nos ombros de Zé, cansada de corpo e alma, Margô finalmente cedeu ao desânimo. Rimo desaparecera em meio à bruma do outro lado da lagoa e não voltara até então. Agora, eram dois os amigos desaparecidos. Sem falar em Rui Rico.
     Zé coçava o bigode, matutando alguma solução. Calculava e recalculava, passava os olhos por toda imensidão da galeria, mas não encontrava uma saída. Estavam presos no meio da terra. Avançar era impossível. Retornar era o fracasso. Sem escolha, permaneciam onde estavam. Estava claro, porém, que em algum momento a balança ia pesar para um dos lados.
     Foi quando os dois ouviram um barulho estranho, quase imperceptível de início, mas que aos poucos foi se tornando mais nítido e potente ao ecoar nas paredes vazias daquele lugar sinistro.
     A doutora sentiu o coração bater alegre novamente.
     - Este som...
     - É o Rimo, Margô!
   Em meio à neblina, distante ainda um bocado, o pássaro negro surgiu, balançando as asas um tanto desengonçado para se sustentar no ar. Instantes depois, logo atrás, desvencilhou-se das brumas um gigante de remo em mãos, guiando uma canoa negra, de proa pontiaguda.
   Com um pouco de esforço, ofegante, Rimo chegou à margem e pousou no ombro de Margô, que o recebeu com um carinho efusivo no bico. Mesmo Zé lançou um sorriso por debaixo do bigodão. Mas, logo o gringo recuperou a seriedade e perguntou, como se Rimo fosse capaz de respondê-lo com palavras.
     - Quem é este? – disse, apontando a embarcação em frente?
     A canoa já estava a distância tão curta que era possível escutar a respiração do gigante - alto, aliás, de tal maneira que tapava a visão de Margô, Rimo e Zé do horizonte. Tal empecilho, todavia, foi de repente resolvido pelo próprio causador do problema. Sem cerimônia, o grandalhão inclinou-se para o lado, dando vista a um rosto que fez a doutora pular de alegria.
     - Baldo!!!
     - Margô, este é Caronte. Ele salvou minha vida e vai nos levar até a porta do Inferno.
     O gigante, no entanto, interrompeu a conversa com seu vozeirão poderoso.
     - É bom que saibais que não transporto ninguém de graça.

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