Apoiada nos
ombros de Zé, cansada de corpo e alma, Margô finalmente cedeu ao desânimo.
Rimo desaparecera em meio à bruma do outro lado da lagoa e não
voltara até então. Agora, eram dois os amigos desaparecidos. Sem falar em Rui Rico.
Zé coçava o
bigode, matutando alguma solução. Calculava e recalculava, passava os olhos por
toda imensidão da galeria, mas não encontrava uma saída. Estavam presos no meio
da terra. Avançar era impossível. Retornar era o fracasso. Sem escolha,
permaneciam onde estavam. Estava claro, porém, que em algum momento a balança
ia pesar para um dos lados.
Foi quando os
dois ouviram um barulho estranho, quase imperceptível de início, mas que aos
poucos foi se tornando mais nítido e potente ao ecoar nas paredes vazias
daquele lugar sinistro.
A doutora
sentiu o coração bater alegre novamente.
- Este som...
- É o Rimo,
Margô!
Em meio à
neblina, distante ainda um bocado, o pássaro negro surgiu, balançando as asas
um tanto desengonçado para se sustentar no ar. Instantes depois, logo
atrás, desvencilhou-se das brumas um gigante de remo em mãos, guiando uma canoa
negra, de proa pontiaguda.
Com um pouco
de esforço, ofegante, Rimo chegou à margem e pousou no ombro de Margô,
que o recebeu com um carinho efusivo no bico. Mesmo Zé lançou um sorriso por debaixo do bigodão. Mas, logo o gringo recuperou a
seriedade e perguntou, como se Rimo fosse capaz de respondê-lo com palavras.
- Quem é este?
– disse, apontando a embarcação em frente?
A canoa já
estava a distância tão curta que era possível escutar a
respiração do gigante - alto, aliás, de tal maneira que tapava a visão de Margô, Rimo e
Zé do horizonte. Tal empecilho, todavia, foi de repente resolvido pelo próprio causador do problema. Sem cerimônia, o grandalhão inclinou-se para o lado, dando vista a
um rosto que fez a doutora pular de alegria.
- Baldo!!!
- Margô, este
é Caronte. Ele salvou minha vida e vai nos levar até a porta do Inferno.
O gigante, no
entanto, interrompeu a conversa com seu vozeirão poderoso.
- É bom que saibais que não transporto ninguém de graça.
- É bom que saibais que não transporto ninguém de graça.
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