Tosse. Tosse.
Tosse.
E um jato de
água suja, acumulada nos pulmões, de repente esguichou da boca de Baldo.
Mais tosse.
Mais ainda. Daquelas de arder a garganta.
E mais água
saiu de dentro do jovem. Que voltava à vida.
Sentiu dores
por todas as partes do corpo. Virou-se e se deitou de costas. Os ossos
estalaram. Será que algum deles estava quebrado?
- Tu não
lesionaste nada – respondeu uma voz gutural, que ecoou na mente de Baldo.
De onde ela
vinha? Ou seria a própria fala que o rapaz azulado ouvia?
- Não sejas
imbecil. Tua voz não é assim – ouviu Baldo mais uma vez, sentindo um calafrio
subir-lhe a espinha.
Onde estava?
De onde vinham aquelas frases negativas, embrulhadas nas mais baixas notas
produzidas por cordas vocais humanas? Meu Deus, sequer seriam tais sons humanos?
Dúvidas rocambolescas passavam a mil pelo raciocínio já normalmente confuso de
Baldo.
- Por que tu
não abres os olhos e resolves teus dilemas? – sugeriu a voz.
Só então o
rapaz atentou-se ao fato de que ainda estava com as pálpebras cerradas. Talvez
fosse mesmo um imbecil. Ou estava com medo de encarar o que quer que fosse que iria
aparecer.
Mesmo assim,
tomou coragem e abriu os olhos.
De início,
enxergou apenas uma massa escura e turva. Aos poucos, no entanto, a visão foi
clareando, modelando as formas, revelando a presença de um ser gigante, de pé,
bem à sua frente. Vestia uma túnica surrada, cheia de manchas e marcas de
dejetos. Na cabeça, um capuz escondia-lhe o rosto por completo.
- Olá – disse o
ser.
-
Aaaaaahhhhhhhhhh!!! – gritou Baldo a plenos pulmões, agitando as pernas para
tentar fugir.
De repente, o
chão balançou três vezes, para lá, para cá, para lá. O gigante apoiou-se como
pode para não cair. Já Baldo só não capotou porque já estava deitado.
- Para com
isso!!! Não vês que estamos em uma embarcação??? – gritou o ser.
Fato. Baldo
olhou para os lados e viu que estava a bordo de uma pequena canoa, conduzida
por meio de um longo remo pelo próprio gigante. Em seguida, lembrou-se da viagem
inesperada pela qual tinha passado escorregando pelos esgotos, até desembocar num rio.
- Quem é você?
Pra onde tá me levando? – perguntou Baldo, com cara de pânico.
Neste momento,
detrás do ombro esquerdo do gigante, surgiu um pássaro negro e rechonchudo
muito familiar. O pequeno animal bateu asas e pousou sobre o colo de Baldo, que
não se aguentou de alegria.
- Rimo!!! –
festejou nosso amigo azul, abraçando seu bicho de estimação apertado a ponto de
os olhos do pássaro quase saltarem das órbitas.
O
gigante, por fim, se apresentou.
- Meu nome é
Caronte, o barqueiro no Inferno. Vamos resgatar teus amigos.
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