15. A LAGOA MORTA


     - Putz! E agora? – perguntou Margô para si mesma.
    Depois de caminharem não sei quantos quilômetros em meio ao cocô e água suja, Margô, Zé e Rimo chegavam ao fim da tubulação. Porém, diferente do que se diz, de que há sempre luz no fim do túnel, a visão desta vez não foi nada animadora.
      O esgoto desembocava em um lago imenso, daqueles que não dá pra ver a margem do outro lado.
    Zé surpreendeu-se ao descobrir a estrutura gigantesca que havia por baixo das ruas e prédios da Cidade. As pessoas sequer imaginavam o universo de coisas que existia sob seus pés.
      A água, ou o que quer que fosse aquela coisa turva, era pastosa, sem movimento. Não havia correnteza. A todo instante, aqui e ali, bolhas estouravam na superfície, liberando no ambiente gases fétidos trazidos das profundezas daquela lagoa morta.
     Ainda assim, ele não se importou.
     - Vou atravessar a nado – sugeriu o gringo.
     - Tá maluco??! – respondeu a doutora. – E você lá sabe o que tem no fundo disso?
     De fato, a cara da lagoa não era boa. O espelho d’água não espelhava nada. Mas, a demanda da missão era mais importante. Zé deu três passos para trás, a fim de pegar distância para um salto de ponta.
     - Não faça isso! – pediu Margô.
     - É preciso, doutora.
    Por sorte, instantes antes de a coragem cometer uma loucura, a inteligência passou à frente. Rimo, que até o momento estava inerte sobre o ombro de Margô, abriu os olhos, deu um pulinho, bateu asas e voou em direção à outra margem. Se é que ela existia.
     Zé já havia arrancado, mas freou a tempo. Margô respirou aliviada e deu um sorriso. Ambos tinham se esquecido do pássaro – e de sua óbvia capacidade de voar. Que bom que Rimo não havia ele mesmo desmerecido seu potencial.
     Metros à frente, Rimo sumiu em meio à escuridão que se projetava para o lado de lá da galeria. Ainda assim, a doutora pode ouvir o bater das asas por um tempo. Depois, nem mais isso – o que voltou a encher o peito dela de agonia.

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