- Putz! E
agora? – perguntou Margô para si mesma.
Depois de
caminharem não sei quantos quilômetros em meio ao cocô e água suja, Margô, Zé e
Rimo chegavam ao fim da tubulação. Porém, diferente do que se diz, de que há
sempre luz no fim do túnel, a visão desta vez não foi nada animadora.
O esgoto
desembocava em um lago imenso, daqueles que não dá pra ver a margem do outro
lado.
Zé surpreendeu-se
ao descobrir a estrutura gigantesca que havia por baixo das ruas e prédios da
Cidade. As pessoas sequer imaginavam o universo de coisas que existia sob seus pés.
A água, ou o
que quer que fosse aquela coisa turva, era pastosa, sem movimento. Não havia
correnteza. A todo instante, aqui e ali, bolhas estouravam na superfície,
liberando no ambiente gases fétidos trazidos das profundezas daquela lagoa
morta.
Ainda assim,
ele não se importou.
- Vou
atravessar a nado – sugeriu o gringo.
- Tá maluco??!
– respondeu a doutora. – E você lá sabe o que tem no fundo disso?
De fato, a
cara da lagoa não era boa. O espelho d’água não espelhava nada. Mas, a demanda
da missão era mais importante. Zé deu três passos para trás, a fim de pegar
distância para um salto de ponta.
- Não faça
isso! – pediu Margô.
- É preciso,
doutora.
Por sorte, instantes
antes de a coragem cometer uma loucura, a inteligência passou à frente. Rimo,
que até o momento estava inerte sobre o ombro de Margô, abriu os olhos, deu um
pulinho, bateu asas e voou em direção à outra margem. Se é que ela existia.
Zé já havia
arrancado, mas freou a tempo. Margô respirou aliviada e deu um sorriso. Ambos tinham
se esquecido do pássaro – e de sua óbvia capacidade de voar. Que bom que Rimo
não havia ele mesmo desmerecido seu potencial.
Metros à
frente, Rimo sumiu em meio à escuridão que se projetava para o lado de lá da
galeria. Ainda assim, a doutora pode ouvir o bater das asas por um tempo.
Depois, nem mais isso – o que voltou a encher o peito dela de agonia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário