Caliel e Checarion partiram em um raio de luz para o Céu.
- Volto logo, minha querida. Muito obrigado por
tudo. Dessa vez, foste tu meu anjo da guarda – declarou Caliel à sua protegida, antes de ir embora.
Lágrimas gorduchas escorreram pelas bochechas da
doutora, que não conseguiu dizer nada além de um simples...
- Tchau!
Cansada e um tanto abalada, Margô logo em seguida
desabou no sofá ao lado dos companheiros da última aventura, que já dormiam
amontoados. Ela também já fechava os olhos, mas foi interrompida pela
curiosidade alheia.
- Não, não, não! Nada de dormir! De jeito nenhum! –
chegou berrando Celeste – Quero saber tudo! Tudo, tudo, tudo!
- Agora não, Celeste!
- Agora, sim, senhora!
A ruiva retrucaria mais uma vez. Porém, além de Celeste, Beterraba e Sorondo também já estavam a postos em frente ao sofá. Era melhor ceder.
- Sei que precisa descansar, doutora. Mas, passamos
dias de imensa preocupação. Por favor, nos conte o que vocês passaram. Depois, poderá
dormir sossegada – pediu o mordomo do laboratório.
- Tá bem.
Cada um puxou uma cadeira e sentou-se em torno de
Margô, que passou as próximas duas horas narrando os detalhes da aventura e
respondendo a todas as dúvidas dos amigos. Depois do falatório, Sorondo serviu
um chá de camomila à doutora, ajudou-a a subir as escadas e chegar até a cama.
- Bons sonhos, Margô.
Não houve tempo de a doutora responder. O sono
foi mais rápido e fez companhia a ela pelas 24 horas seguintes.
Ao acordar e descer as escadas, a chefe do
laboratório deparou-se com todos agitados, trabalhando e conversando pelos cotovelos.
Ela não quis interromper a empolgação da equipe e, por alguns minutos, ficou
parada, sem descer os degraus.
- Por que meu anjo da guarda não aparece como fez o Caliel com a Margô? – Beterraba soltou a pergunta no ar.
- Hahaha! E eu? Que nem sabia que a gente tinha anjo da
guarda! – respondeu Baldo.
- Depois do que passamos debaixo da terra, acredito
que cada um de nós tem é um exército de guarda, não um anjo só – brincou Zé.
- É possível, amigo. Não sei o que seria da gente
se o Checarion não tivesse aparecido na hora H! – completou Baldo.
- Para ser honesta, eu também não sei. O importante
é que permanecemos unidos e completamos a missão que nos foi designada. Estou
orgulhosa de vocês, mais uma vez – falou Margô, para surpresa dos demais, que não haviam percebido a presença dela. A doutora, além de uma
ótima equipe, sabia que contava naquele laboratório com excelentes amigos,
amigos para toda a vida.
- Precisamos agora dedicar força total a algumas
encomendas que estão atrasadas. Afinal, trabalhamos desfalcados nesses dias em
que vocês estiveram nas profundezas do mundo! – lembrou Beterraba.
- Você tem razão, Betê. O dever nos chama! –
empolgou-se a doutora, que desceu as escadas correndo para ajudar os companheiros.
No último degrau, o salto do sapato vermelho de
Margô arrebentou. A ruiva cambaleou três passos à frente, girou 180 graus,
tropeçou no pé de uma das cadeiras do laboratório, patinou no piso que Sorondo
havia encerado no dia anterior, rodopiou mais uma vez no próprio eixo e estava
prestes a estatelar de cara numa imensa estante de livros (que provavelmente
cairia depois sobre ela), quando, zup!, a barra do vestido da doutora ficou
presa na quina de uma das mesas. A roupa esticou, não arrebentou, e Margô
desacelerou até parar de pé, sã e salva, no meio do laboratório.
- Margô!!!
- Você tá bem?
- Se machucou?
- Que perigo!
A ruiva respirou fundo, aliviada. O coração batia
mais rápido que tamborim de escola de samba.
- Uau! Estou bem. Mas, essa foi por pouco! –
resumiu a doutora.
O grupo foi acudir Margô e a fez sentar. Sorondo correu
à cozinha apanhar um copo d’água com açúcar.
Enquanto a doutora bebericava uns goles, o sábio
mordomo observou.
- Certamente seu anjo Caliel também já voltou ao
trabalho, Margô.
Nenhum comentário:
Postar um comentário