27. À CASA TORNA

     A musiquinha do Plantão da Globo começou a tocar de repente. Todos pararam de fazer o que estavam fazendo e foram para frente da TV.     
    - Em uma incrível virada, a presidente Tina Dupep foi reeleita no primeiro turno com 54% dos votos. A candidata já estava arrumando as trouxas para ir embora do Palácio do Planalto quando recebeu a notícia. A arrancada da vitória foi uma surpresa nacional. Afinal, todas as pesquisas de boca de urna indicavam que o candidato Rui Rico seria eleito com 99% dos votos! Depois de todas as urnas apuradas, Rico terminou na última colocação, com 0,00009%. Parece que ele teve só o voto da mãe, da esposa e dele mesmo! - anunciou a jornalista.
    Assim que chegou ao laboratório, Margô entregou a garrafa com a alma do político para Caliel. O anjo – que já estava plenamente curado da queda que havia sofrido --, de imediato, retirou a rolha que lacrava boca do objeto.
     Feito um gênio quando sai da lâmpada, a alma de Rui Rico evaporou para fora da garrafa, reagrupou-se em pleno ar, deu um rodopio, beijou a testa de Margô, a bochecha de Caliel e voou ao encontro de seu corpo.
     Rui Rico, ou melhor, o corpo de Rui Rico, estava sentado num grande sofá, em frente à TV, na sala do comitê de sua campanha. Em volta, muita gente com bandeiras, buzinas e cornetas preparava-se para sair aos gritos às ruas e fazer a festa. Todos tomaram um baque gigantesco ao assistirem ao resultado da eleição.
     Em meio ao choque, nenhum deles percebeu o que ocorria com Rico. O ser que estava sorridente e com um brilho estranho no olhar sentado no sofá de repente sentiu um tranco, como se estivesse engolido algo que não lhe caísse bem no estômago.
     Logo em seguida, os olhos de Rui Rico reviraram, seu coração acelerou, os dedos das mãos entortaram-se, seu rosto ficou completamente vermelho e ele teve um ligeiro desmaio. Ao voltar a si, não havia mais sorriso no rosto – mas, sua alma estava de volta à casa.
     - Onde estou? – perguntou o político, sem receber resposta.

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